DESENVOLVIMENTO
DA ENFERMAGEM ATRAVÉS DA HISTÓRIA
A enfermagem é uma profissão que
surgiu empiricamente e se desenvolveu, através dos séculos, em estreita relação
com a história da civilização, mas que nem sempre acompanhou o desenvolvimento
no campo científico. Houve época em que a enfermagem era uma atividade regida
pelo espírito de serviço e humanismo, associado a crenças e superstições, sem
nenhuma fundamentação científica, ou então épocas de maiores conhecimentos e
habilidades, mas deficientes pelo padrão moral dos elementos que a exerciam.
O tratamento do
enfermo depende estritamente do conceito de saúde e de doença. Nesta época, os
povos primitivos entendiam a doença como um castigo dado pelos deuses, ou então
como causada pelos efeitos de um poder diabólico,exercido sobre os homens. O
tratamento consistia em aplacar as divindades, afastando os maus espíritos por
meio de sacrifícios. Usavam-se: massagens, banho de água fria ou quente,
purgativos, substâncias provocadoras de náuseas. Mais tarde os sacerdotes
adquiriram conhecimentos sobre plantas medicinais e passaram a ensinar pessoas,
delegando-lhes funções de enfermeiros e farmacêuticos.
Os documentos
daquela época nos forneceram ideia do tratamento dispensado então aos doentes.
Os mais antigos foram encontrados no Egito, do ano 4688 A.C- ao ano 1552 da
mesma era. Alguns destes documentos relatam prescrições e fórmulas médicas
seguidas de fórmulas religiosas, que o doente devia pronunciar, enquanto
ingeria o medicamento. Por outro lado, quem preparava a droga, devia fazê-lo ao
mesmo tempo que dizia uma oração a lsis e a Hórus, princípio de todo bem.
O cristianismo,
indiretamente, provocou uma transformação na organização política e social,
através da reforma dos indivíduos e da família. Surgiu, nesta época, um grande
espírito de humanidade, e muitos cristãos, levados a procurar uma vida mais
santa e caridosa, se reuniam em pequenas comunidades, que se dedicavam à
assistência dos pobres, velhos, enfermos e necessitados, em casas particulares
ou hospitais, chamadas Diaconias.
Período de decadência da Enfermagem
A baixa do
espírito cristão repercutiu diretamente na enfermagem, tanto na quantidade como
na qualidade das pessoas que se dedicavam ao serviço dos enfermos. Os donativos
e a generosidade iam cada vez mais diminuindo, os hospitais entrando em sérias
dificuldades de funcionamento por falta de recursos humanos e materiais. Aos
poucos, a decadência se agravava, ocasionando o fechamento de muitos hospitais.
Outro fator que colaborou nessa crise dos hospitais foi a Reforma religiosa
provocada por Lutero, Henrique Vlll e Calvino, que expulsou dos hospitais as
religiosas que assistiam os doentes, especialmente na Inglaterra.
Os cuidados
prestados aos enfermos passaram a ser dados por pessoas de baixo nível social e
qualificação pessoal. Esta atividade passa a ser um trabalho árduo e de baixa
remuneração; não havendo mais, ou muito pouco, o sentido cristão que regeu, por
longa época, a razão de assistir os necessitados. O desenvolvimento científico
da enfermagem naquela época foi muito pequeno, não conseguindo acompanhar o
avanço que a medicina tinha conseguido alcançar.
O avanço da Medicina vem favorecer a reorganização dos
hospitais. É na reorganização da Instituição Hospitalar e no posicionamento do
médico como principal responsável por esta reordenação, que vamos encontrar as
raízes do processo de disciplinarização e seus reflexos na Enfermagem, ao
ressurgir da fase sombria em que esteve submersa até então.
A evolução crescente dos hospitais não melhorou,
entretanto, suas condições de salubridade. Diz-se mesmo que foi a época em que
estiveram sob piores condições, devido principalmente à predominância de
doenças infecto-contagiosas e à falta de pessoas preparadas para cuidar dos
doentes. Os ricos continuavam a ser tratados em suas próprias casas, enquanto
os pobres, além de não terem esta alternativa, tornavam-se objeto de instrução
e experiências que resultariam num maior conhecimento sobre as doenças em
benefício da classe abastada.
É
neste cenário que a Enfermagem passa a atuar, quando Florence Nightingale é convidada
pelo Ministro da Guerra da Inglaterra para trabalhar junto aos soldados feridos
em combate na Guerra da Criméia.
Período Florence Nightingale
Nascida a 12 de maio de 1820, em
Florença, Itália, era filha de ingleses. Possuía inteligência incomum, tenacidade
de propósitos, determinação e erseverança - o que lhe permitia dialogar com
políticos e oficiais do Exército, fazendo prevalecer suas idéias. Dominava com
facilidade o inglês, o francês, o alemão, o italiano além do grego e latim. No
desejo de realizar-se como enfermeira, passa o inverno de 1844 em Roma, estudando
as atividades das Irmandades Católicas. Em 1849 faz uma viagem ao Egito e decide-se
a servir a Deus, trabalhando em Kaiserswert, Alemanha, entre as diaconisas. Decidida
a seguir sua vocação, procura completar seus conhecimentos que julga ainda insuficientes.
Visita o Hospital de Dublin dirigido pelas Irmãs de Misericórdia, Ordem Católica
de Enfermeiras, fundada 20 anos antes. Conhece as Irmãs de Caridade de São Vicente
de Paulo, na Maison de la Providence em Paris.
Aos poucos vai se preparando para a sua grande missão. Em
1854, a Inglaterra, a França e a Turquia declaram guerra à Russia: é a Guerra
da Criméia. Os soldados ingleses acham-se no maior abandono. A mortalidade
entre os hospitalizados é de 40%.Florence partiu para Scutari com 38
voluntárias entre religiosas e leigas vindas de diferentes hospitais. Algumas
das enfermeiras foram despedidas por incapacidade de adaptação e principalmente
por indisciplina. Florence é incomparável: estende sua atuação desde a
organização do trabalho, até os mais simples serviços como a limpeza do chão.
Aos poucos, os soldados e oficiais um a um começam a curvar-se e a enaltecer
esta incomum Miss Nightingale. A mortalidade decresce de 40% para 2%. Os
soldados fazem dela o seu anjo da guarda e ela será imortalizada como a
"Dama da Lâmpada" porque, de lanterna na mão, percorre as
enfermarias, atendendo os doentes. Durante a guerra contrai tifo e ao retornar
da Criméia, em 1856, leva uma vida de inválida.
Pelos
trabalhos na Criméia, recebe um prêmio do Governo Inglês e, graças a este
prêmio, consegue iniciar o que para ela é a única maneira de mudar os destinos
da Enfermagem - uma Escola de Enfermagem em 1859.
Após a guerra, Florence fundou uma escola de Enfermagem
no Hospital Saint Thomas, que passou a servir de modelo para as demais escolas
que foram fundadas posteiormente. A disciplina rigorosa, do tipo militar, era
uma das características da escola nightingaleana, bem como a exigência de
qualidades morais das candidatas. O curso, de um ano de duração, consistia em
aulas diárias ministradas por médicos.
Nas primeiras escolas de Enfermagem o médico foi, de
fato, a única pessoa qualificada para ensinar. A ele cabia então decidir quais
das suas funções poderia colocar nas mãos das enfermeiras Florence morre a 13
de agosto de 1910, deixando florescente o ensino de Enfermagem. Assim a
Enfermagem surge não mais como uma atividade empírica, desvinculada do saber
especializado, mas como uma ocupação assalariada que vem atender a necessidade
de mão-de-obra nos hospitais, constituindo-se como uma prática social
institucionalizada e específica.
Primeiras Escolas de
Enfermagem
Apesar das dificuldades que as pioneiras da Enfermagem
tiveram que enfrentar,
devido
à incompreensão dos valores necessários ao desempenho da profissão, as escolas
se espalharam pelo mundo, a partir da Inglaterra. Nos Estados Unidos a primeira
Escola foi criada em 1873.
Em 1877 as primeiras enfermeiras diplomadas começam a
prestar serviços a domicílio em New York. As escolas deveriam funcionar de
acordo com a filosofia da Escola de Florence Nightingale, baseada em quatro
idéias-chave:
1. O
treinamento de enfermeiras deveria ser considerado tão importante quanto
qualquer
outra forma de ensino e ser mantido pelo dinheiro público. Ter
2.
As escolas de treinamento deveriam uma estreita associação com os hospitais,
mas manter sua independência financeira e administrativa.
3.
Enfermeiras profissionais deveriam ser responsáveis pelo ensino no lugar de
pessoas não envolvidas em Enfermagem.
Sistema Nightingale de
Ensino
As
escolas conseguiram sobreviver graças aos pontos essenciais estabelecidos:
1º.
Direção da escola por uma enfermeira.
2º.
Mais ensino metódico, em vez de apenas ocasional.
3º.
Seleção de candidatos do ponto de vista físico, moral, intelectual e aptidão
profissional.
História da Enfermagem no
Brasil
A organização da Enfermagem na Sociedade Brasileira -
compreende desde o período colonial até o final do século XIX e analisa a
organização da Enfermagem no contexto da sociedade brasileira em formação.
Desde o princípio da colonização foi incluida a abertura das Casas de
Misericórdia, que tiveram origem em Portugal.
No que diz respeito à saúde do nosso povo, merece
destaque o Padre José de Anchieta. Ele não se limitou ao ensino de ciências e
catequeses; foi além: atendia aos necessitados do povo, exercendo atividades de
médico e enfermeiro. Em seus escritos encontramos estudos de valor sobre o
Brasil, seus primitivos habitantes, clima e as doenças mais comuns.
A primeira sala de partos funcionava na Casa dos Expostos
em 1822. Em 1832 organizou-se o ensino médico e foi criada a Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro. A escola de parteiras da Faculdade de Medicina
diplomou no ano seguinte a célebre Madame Durocher, a primeira parteira formada
no Brasil. No começo do século XX, grande número de teses médicas foram
apresentadas sobre Higiene Infantil e Escolar, demonstrando os resultados
obtidos e abrindo horizontes a novas realizações. Esse progresso da medicina,
entretanto, não teve influência imediata sobre a Enfermagem.
Assim sendo, na enfermagem brasileira do tempo do Império,
raros nomes de destacam e, entre eles, merece especial menção o de Ana Neri.
Aos 13 de dezembro de 1814, nasceu Ana Justina Ferreira,
na Cidade de Cachoeira, na Província da Bahia. Casou-se com Isidoro Antonio
Neri, enviuvando aos 30 anos. Seus dois filhos, um médico militar e um oficial
do exército, são convocados a servir a Pátria durante a Guerra do Paraguai
(1864-1870), sob a presidência de Solano Lopes.
O mais jovem, aluno do 6º ano de Medicina, oferece seus
serviços médicos em prol dos brasileiros. Ana Neri não resiste à separação da
família e escreve ao Presidente da Província, colocando-se à disposição de sua
Pátria. Em 15 de agosto parte para os campos de batalha, onde dois de seus
irmãos também lutavam. Improvisa hospitais e não mede esforços no atendimento
aos feridos. Após cinco anos, retorna ao Brasil, é acolhida com carinho e
louvor, recebe uma coroa de louros e Victor Meireles pinta sua imagem, que é
colocada no Edifício do Paço Municipal.
O governo Imperial lhe concede uma pensão, além de
medalhas humanitárias e de campanha. Faleceu no Rio de Janeiro a 20 de maio de
1880. A primeira Escola de Ana Neri como Florence Nightingale, rompeu com os
preconceitos da época que faziam da mulher prisioneira do lar.Enfermagem
fundada no Brasil recebeu o seu nome.